Falácias Lógicas - Aprenda a Argumentar

O Matemático, Cientista e Filósofo Charles Sanders Pierce fala que "as lógicas são ferramentas para o raciocínio correto" .

Quanto mais civilizada é uma pessoa, menos falácias lógicas ela comete, as falácias prejudicam o bom debate e são improdutivas. Confira as mais comuns em conversas pessoais, e procure não cometê-las mais :

1) Argumentum ad hominem

Você ataca o caráter ou traços pessoais do seu interlocutor em vez de refutar o argumento/idéia dele.

Ataques ad hominem podem assumir a forma de golpes pessoais e diretos contra alguém, ou mais sutilmente jogar dúvida no seu caráter ou atributos pessoais. O resultado desejado de um ataque ad hominem é prejudicar o oponente de alguém sem precisar de fato se engajar no argumento dele ou apresentar um próprio.

Ex: Depois de Fernanda apresentar de maneira eloquente e convincente uma possível reforma do sistema de cobrança do condomínio, Samuel pergunta aos presentes se eles deveriam mesmo acreditar em qualquer coisa dita por uma mulher que não é casada, já foi presa e, pra ser sincero, tem um cheiro meio estranho.

2) Argumentum ad verecundiam ou argumentum magister dixit (Argumento da autoridade) - popular carteirada

Você apela à autoridade científica/religiosa/política de A ou B para corroborar a sua idéia . Ou você usa da sua autoridade pessoal, e não de suas idéias, para que o interlocutor aceite a sua opinião.

Ex 1 : O grande psicanalista Freud fumava, então fumar não deve fazer mal.

Ex 2 : Escute, eu sou doutor, e estou lhe dizendo : isto que você está dizendo não é verdade (algo passa a ser verdade ou não, pelos argumentos que uma pessoa expõe, e não por títulos que ela possui).

3) Argumentum ad lazarum - Apelo à pobreza

Você apela à pobreza de alguém para considerar uma ideia correta.

Ex: Gandhi viveu na pobreza voluntária, logo, suas ideias devem ser seguidas por todos.

Ex: Este político veio da pobreza, passou fome, logo, ele será melhor preparado para o país que os demais.

Tu Quoque - Você também

Você evita ter que se engajar em críticas virando as próprias críticas contra o acusador – você responde críticas com críticas.

Esta falácia, cuja tradução do latim é literalmente “você também”, é geralmente empregada como um mecanismo de defesa, por tirar a atenção do acusado ter que se defender e mudar o foco para o acusador.

A implicação é que, se o oponente de alguém também faz aquilo de que acusa o outro, ele é um hipócrita. Independente da veracidade da contra-acusação, o fato é que esta é efetivamente uma tática para evitar ter que reconhecer e responder a uma acusação contida em um argumento – ao devolver ao acusador, o acusado não precisa responder à acusação.

Ex: Nicole identificou que Ana cometeu uma falácia lógica, mas, em vez de retificar o seu argumento, Ana acusou Nicole de ter cometido uma falácia anteriormente no debate.

Ex 2: O político Aníbal Zé das Couves foi acusado pelo seu oponente de ter desviado dinheiro público na construção de um hospital. Aníbal não responde a acusação diretamente e devolve insinuando que seu oponente também já aprovou licitações irregulares em seu mandato.

4) Falácia da Alegação especial

Você altera as regras ou abre uma exceção quando sua afirmação é exposta como falsa.

Humanos são criaturas engraçadas, com uma aversão boba a estarem errados.

Em vez de aproveitar os benefícios de poder mudar de ideia graças a um novo entendimento, muitos inventarão modos de se agarrar a velhas crenças. Uma das maneiras mais comuns que as pessoas fazem isso é pós-racionalizar um motivo explicando o porque aquilo no qual elas acreditavam ser verdade deve continuar sendo verdade.

É geralmente bem fácil encontrar um motivo para acreditar em algo que nos favorece, e é necessária uma boa dose de integridade e honestidade genuína consigo mesmo para examinar nossas próprias crenças e motivações sem cair na armadilha da auto-justificação.

Ex: Eduardo afirma ser um vidente, mas quando as suas “habilidades” foram testadas em condições científicas apropriadas, elas magicamente desapareceram. Ele explicou, então, que elas só funcionam para quem tem fé nelas.

5) Falácia da Ambiguidade

Você usa duplo sentido ou linguagem ambígua para apresentar a sua verdade de modo enganoso.

Políticos frequentemente são culpados de usar ambiguidade em seus discursos, para depois, se forem questionados, poderem dizer que não estavam tecnicamente mentindo. Isso é qualificado como uma falácia, pois é intrinsecamente enganoso.

Ex: Em um julgamento, o advogado concorda que o crime foi desumano. Logo, tenta convencer o júri de que o seu cliente não é humano por ter cometido tal crime, e não deve ser julgado como um humano normal.

06) Argumentum ad populum - apelo à popularidade

Você apela para a popularidade de um fato, no sentido de que muitas pessoas fazem/concordam com aquilo, como uma tentativa de validação dele.

A falha nesse argumento é que a popularidade de uma ideia não tem absolutamente nenhuma relação com a sua validade. Se houvesse, a Terra teria se feito plana por muitos séculos, pelo simples fato de que a maioria das pessoas acreditava que ela era assim.

Exemplo: Luciano apontou um dedo para Jão e perguntou como é que tantas pessoas acreditam em duendes se eles são só uma superstição antiga e boba. Jão, por sua vez, afirmou que já que tantas pessoas acreditam, a probabilidade de duendes de fato existirem é grande.

7) Falácia da Composição/Divisão

Você implica que uma parte de algo deve ser aplicada a todas, ou outras, partes daquilo.

Muitas vezes, quando algo é verdadeiro em parte, isso também se aplica ao todo, mas é crucial saber se existe evidência de que este é mesmo o caso.

Já que observamos consistência nas coisas, o nosso pensamento pode se tornar enviesado de modo que presumimos consistência e padrões onde eles não existem.

Ex: Daniel era uma criança precoce com uma predileção por pensamento lógico. Ele sabia que átomos são invisíveis, então logo concluiu que ele, por ser feito de átomos, também era invisível.

8) Argumentum ad Naturam

Você argumenta que só porque algo é "natural", aquilo é válido, justificado, inevitável ou ideal.

Só porque algo é natural, não significa que é bom. Assassinato, por exemplo, é bem natural, e mesmo assim a maioria de nós concorda que não é lá uma coisa muito legal de você sair fazendo por aí. A sua "naturalidade" não constitui nenhum tipo de justificativa.

Ex: O político João disse que existe homossexualidade em um monte de espécies no reino animal, logo, ser homossexual é algo natural.
Há incestos, assassinatos, pedofilia, e uma série de comportamentos no reino animal; logo, não se pode usar a natureza como norte para o comportamento do homem.

9) Argumentum ad novitatem - Apelo à novidade

Você apela/acredita que algo por ser mais recente é necessariamente melhor .

Ex: João, um fabricante de farinha disse à repórter : As farinhas que temos hoje, por serem feitas rapidamente por máquinas, são melhores do que nos tempos de nossos antepassados(Algo que tem se mostrado falso nutricionalmente). Há também o inverso: argumentum ad antiquitatem, acreditar que algo é melhor simplesmente por ser mais antigo.

10) Falácia Atirador do Texas

Esta falácia de "falsa causa" ganha seu nome partindo do exemplo de um atirador disparando aleatoriamente contra a parede de um galpão, e, na sequência, pintando um alvo ao redor da área com o maior número de buracos, fazendo parecer que ele tem ótima pontaria.

Grupos específicos de dados como esse aparecem naturalmente, e de maneira imprevisível, mas não necessariamente indicam que há uma relação causal.

Ex: Os fabricantes do bebida gaseificada Coca e açúcar apontam pesquisas que mostram que, dos cinco países onde a Coca e açúcar é mais vendida, três estão na lista dos dez países mais saudáveis do mundo, logo, Coca e açúcar é saudável.

11) Falácia do Espantalho

Você desvirtuou um argumento para torná-lo mais fácil de atacar.

Ao exagerar, desvirtuar ou simplesmente inventar um argumento de alguém, fica bem mais fácil apresentar a sua posição como razoável ou válida. Este tipo de desonestidade não apenas prejudica o discurso racional, como também prejudica a própria posição de alguém que o usa, por colocar em questão a sua credibilidade – se você está disposto a desvirtuar negativamente o argumento do seu oponente, será que você também não desvirtuaria os seus positivamente?

Ex: Depois de Felipe dizer que o governo deveria investir mais em saúde e educação, Jader respondeu dizendo estar surpreso que Felipe odeie tanto o Brasil, a ponto de querer deixar o nosso país completamente indefeso, sem verba militar.

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